S. Martinho do Porto é daqueles locais de encantos únicos, com a baía em forma de concha, a preencher todos os requisitos desejados pelos veraneantes, desde as águas límpidas e calmas à areia fina e dourada. Por estes motivos e também por estar próximo das termas de Caldas da Rainha, foi, ao longo dos séculos, procurado, sazonalmente, por reis e rainhas. Os burgueses e aristocratas que procuravam a baía construíram imponentes casas senhoriais, com pormenores de grande requinte. Um glamour que se perdeu nas últimas décadas, mas que se procura agora recuperar.
O Hotel Palace do Capitão é o exemplo mais sublime do regresso ao charme de outros tempos. Património municipal desde 1996, o edifício tem a marca do conhecido arquitecto Ernesto Korrodi. O palacete, transformado em hotel e casa de chá, foi construído em 1917 para o famoso capitão Jaime Granger Pinto, ao estilo Arte Nova. Com o passar dos anos, foi mudando de mãos, até que saiu da família. Em 2000, o empresário José Luís Fortunato adquiriu-o com a intenção de o transformar em hotel.
Os anos seguintes, recorda a filha, Tânia Fortunato, actualmente gerente do espaço, foram bastante difíceis. "É muito complicado recuperar edifícios deste género, uma vez que os projectos têm de passar pela Câmara, Direcção-Geral do Turismo e Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico. São passos burocráticos longos e acaba por ser mais rentável construir de raiz", lamenta a responsável.
Só em 2005 foi feita a inauguração. O espaço exterior foi recuperado e mantém os traços originais, enquanto no interior a decoração clássica e romântica procura criar um ambiente acolhedor e familiar. Para Tânia Fortunato, o Palace do Capitão é, sem dúvida, "um hotel familiar". "Como temos apenas 11 quartos, todos decorados de forma diferente, e não temos feito publicidade, as pessoas vêm, gostam e acabam por regressar, recomendando aos amigos", conta. O negócio tem vindo a florescer e até já "há pessoas em lista de espera". Em Agosto, o edifício recebeu o prémio de arquitectura Eugénio dos Santos, atribuído pela Câmara de Alcobaça, pela forma como foi recuperado.
Carlos Bonifácio, vereador do Urbanismo, explica tratar-se de "um prémio pelo trabalho realizado e de um incentivo para outros empresários seguirem o exemplo". "S. Martinho não pode voltar a ser o que era, uma vez que os tempos são outros, mas pode recuperar o título de estância turística", considera. O autarca refere que "com a delimitação do centro histórico, está encontrado um instrumento jurídico que proteja toda essa zona. As obras serão, assim, vigiadas e fiscalizadas com maior rigor".
A estas regras juntam-se a intervenção paisagística, já concluída na marginal, a construção do elevador e a mudança do posto de turismo, com a consequente recuperação da praça engenheiro José Frederico Ulrich. Mudanças para melhor, que atraíram este Verão mais turistas à vila. O optimismo é visível e pode acentuar-se com a classificação, para breve, de outro edifício, actualmente em ruínas, o Hotel Parque.
Dos monges de Cister à construção de navios
Todo o território a Sul do Convento de Alcobaça foi entregue aos monges de Cister em 1154, pelo que coube a estes o povoamento da região, incluindo S. Martinho. A vila foi reconhecida por D. Afonso III, em 1257. A sua riqueza, sobretudo ao nível da água e da floresta, fez nascer uma povoação piscatória. A madeira começou a ser aproveitada para construção de navios. Já no século XIX foi um importante porto comercial.
Baía das marquesas e a decadência no século XX
A fama da praia atraiu reis e outras personalidades. Nesta vila, viveram a rainha Santa Isabel, D. Leonor de Aragão e D. Leonor de Bragança, assim como D. Amélia e D. Carlos. S. Martinho perdeu a importância piscatória para ganhar importância turística. Em meados do século XX, a riqueza deu lugar à decadência, à semelhança do que aconteceu por todo o país, e muitas pessoas acabaram por emigrar. Nas últimas décadas, com a recuperação da vida económica, a vila volta a ser procurada por uma certa burguesia financeira. Alguns edifícios desses tempos áureos ganham nova vida, outros já deram lugar a prédios.
(*) in Jornal de Notícias, 2007-11-07
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