6.9.04

IR A BANHOS. COM RAMALHO ORTIGÃO

“O presente itinerário, visto por Ramalho, sendo ao touriste destinado, é-o nomeadamente pela lateralidade a qualquer ligeireza à vol d´oiseau que caracteriza episódicos visitantes, de cata-troféus fotográfico em punho e coceira nas hormonas e na micose”

P. C. Domingues


Ramalho Ortigão inspirou-se no seu amor às coisas do mar no pioneiro que foi Jules Michelet e nos seus escritos La Renaissance par la mer (livro quarto de La Mer).

Na sua viagem pelas Praias de Portugal – Póvoa do Varzim, Granja, Vila do Conde, Figueira da Foz, Pedrouços, Cascais, Ericeira, Nazaré, Setúbal – Ramalho dedica um capítulo às “praias obscuras”,que descreve como”pontos adequados à instalação de uma família em uso de banhos”.
Ente essas “pequenas praias” refere como “particularmente dignas de menção” as de Âncora, Apúlia, Lavadores Furadouro, Costa Nova, Assenta, Santa Cruz, São Pedro de Moel, Porto Brandão, Alfeite, Fonte da Pipa e a de São Martinho do Porto.

Eis como Ramalho, à luz do Séc. XIX, viu a praia de São Martinho do Porto, que em meados do século seguinte viria a atingiu por entre névoas e ambiguidades um destino prodigioso:

“ São Martinho do Porto, na Estremadura, entre as Caldas da Rainha e Alcobaça.
É uma povoação de pescadores. Aluga por módicos preços vinte ou trinta casas mobiladas. Está ligada à Marinha Grande por um caminho –de - ferro americano, e comunica com as Caldas da Rainha, com Alcobaça e com a Batalha por uma boa estrada. A temporada em São Martinho do Porto presta-se às mais interessantes excursões artísticas que se podem fazer comodamente em Portugal.
São Martinho do Porto é principalmente habitado nos meses de Verão por famílias espanholas. As pessoas de Leiria , de Alcobaça, da Marinha Grande preferem a Nazaré. A viagem de Lisboa a São Martinho do Porto faz-se por Chão de Maçãs e Leiria ou pelo Carregado e Caldas, e custa mais ou menos uma libra por passageiro tomando lugar de primeira classe no caminho – de - ferro e prosseguindo na diligência do Carregado ou de Leiria.
Em Setembro do ano passado encontrámos em Mérida uma estimável família espanhola que chegava de São Martinho do Porto. Traziam cabazes cheios de excelente fruta de Alcobaça. Tinham-se provido para o seu Inverno de uma barrica de magníficos badejos, pescados em São Martinho e conservados em salmoura. Disseram-me maravilhas da cómoda e tranquila vida passada durante dois meses no agradável retiro que tinham tido a lembrança de escolher. “


AT

O nome



“ Uma pequena vila estendendo-se como uma curva da lua em torno de uma calma enseada”
Guy de Maupassant ( Via Errante)




“ O Bispo de Tours nasceu no ano de 316 na Panónia, actual Hungria, e faleceu em 8 de Novembro de 397 na cidade de Tours.
Foi um santo sublime e a sua biografia escrita por Suplicio Severo espalhou-se por todo o mundo romano e o seu culto tornou-se extraordinariamente popular.
A cidade de Tours tornou-se um centro de peregrinação onde acorria toda a gente dos diversos países, para venerar o túmulo de S. Martinho….

Supõe-se que por vontade do D. Abade de Alcobaça, D. Frei Estêvão Martins, seguindo a devoção dos monges cistercienses, em grande parte oriundos de terras gaulesas, foi este santo proclamado Padroeiro e Protector da Póvoa de S. Martinho, quando da concessão do Foral e Carta de Povoamento, em Junho de 1257, quando reinava El-Rei de Portugal Dom Afonso III, o Bolonhês…”

J Nunes dos Santos

AT

30.8.04

O ANTIGO PORTO EBUROBRITIUM

Segundo alguns escritores e citando um, Manuel Vieira Natividade, o mar, em tempos antigos, entrando pela foz do actual rio Alcoa (Nazaré), formava um vasto estuário, sendo a entrada defendida por uma ilha em que se erguia uma fortaleza.

O mar entrava rio estreito, hoje chamado, Ponte de Barca, estendia-se por uma enorme bacia até Alfeizerão prolongava-se ao longo da Serra da Cela, Bárrio, Vestiaria, até Fervença, onde, ainda em 1200, barcos vindos de Lisboa, carregavam madeiras e descarregavam géneros para os frades de Alcobaça, segundo refere um velho manuscrito.

Daí passava um pouco a poente da actual Maiorga, Valado e junto a este lugar formava uma curva, as Águas Belas, voltando para o monte de S. Bartolomeu e prolongando-se com ele até ao estreito por onde entrava.

Para o sul também se dava o prolongamento, o qual se devia estender por Caldas da Rainha até Lagoa de Óbidos, indo alojar-se na Várzea da Rainha, tendo saída para o mar pela Foz do Arelho.
Resultava desta disposição que o terreno constituído pelas Serra da Pescaria e Serra do Douro, formavam uma ilha, que mais tarde, pela abertura da passagem entre as actuais povoações de S. Martinho do Porto e Salir do Porto (Barra da Baía de S Martinho), se dividiu em duas.

As areias e detritos que se foram acumulando nos remansos, juntamente ás que o vento transportava causaram assoreamentos separando em duas bacias o vasto estuário, estando hoje reduzido à Lagoa de Óbidos e Concha de S. Martinho do Porto.

Convertido o estuário em campos, que desde a foz do rio Alcoa, se estendia até Fervença e Alfeizerão compensando assim o mar no seu recuo, as terras onde correra, em toda a extensão da costa, na largura de, talvez 2 km, desde os tempos da ocupação Romana.

A abertura da vasto estuário foi devida a um grande abatimento da linha das montanhas, paralelamente ao mar, produzindo um vale tifónico que, descendo abaixo do nível do mar, deu lugar a que as águas o viessem ocupar em toda a sua extensão aproximando-se do actual trajecto da linha férrea, desde as proximidades do Bombarral, até um pouco a norte do Valado de Frades.

As águas que saíam pela foz do rio Alcoa, quando se abriu o rasgão de S. Martinho do Porto (Barra da Baía), passaram, tal como aconteceu na ponta sul, também a fazer remansos e as duas bacias do Alcoa e Alfeizerão separaram-se, estando hoje a do Alcoa transformada em campos de cultura e porto de abrigo e a de Alfeizerão reduzida à Baía de S. Martinho do Porto.